15/02/2012

DETALHES DA CIDADE-NOSSO LAR

DETALHES DA CIDADE

O livro Nosso Lar, principalmente, é rico em detalhes acerca da cidade, de seus logradouros e de suas edificações. Passamos a reproduzi-las, na ordem em que se apresentam, citando, ao final, o número da página do livro:

"Embora transportado à maneira de ferido comum, lobriguei o quadro confortante que se desdobrava à minha vista.
"Clarêncio, que se apoiava num cajado de substância luminosa, deteve-se à frente de grande porta encravada em altos muros, cobertos de trepadeiras floridas e graciosas. Tateando um ponto da muralha, fêz-se longa abertura, através da qual penetramos, silenciosos.

"Branda claridade inundava ali todas as coisas. Ao longe, gracioso foco de luz dava a ideia de um pôr-do-sol em tardes primaveris. À medida que avançávamos, conseguia identificar preciosas construções, situadas em extensos jardins.

"Ao sinal de Clarêncio, os condutores depuseram, devagarinho, a maca improvisada. A meus olhos surgiu, então, a porta acolhedora de alvo edifício, à feição de grande hospital terreno. Dois jovens, envergando túnicas de níveo linho, acorreram pressurosos ao chamado de meu benfeitor, e quando me acomodavam num leito de emergência, para me conduzirem cuidadosamente ao interior, ouvi o generoso ancião recomendar, carinhoso:

" — Guardem nosso tutelado no pavilhão da direita. Esperam agora por mim. Amanhã cedo voltarei a vê-lo.
"Enderecei-lhe um olhar de gratidão, ao mesmo tempo que era conduzido a confortável aposento de amplas proporções, ricamente mobiliado, onde me ofereceram leito acolhedor." (págs. 26/27).

"Aquela melodia renovava-me as ener­gias profundas. Levantei-me vencendo dificul­dades e agarrei-me ao braço fraternal que se me estendia. Seguindo vacilante, cheguei a enorme salão, onde numerosa assembleia meditava em silêncio, profundamente recolhida. Da abóboda cheia de claridade brilhante, pendiam delicadas e flóreas guirlandas, que vinham do teto à base, formando- radiosos símbolos de espiritualidade superior. Ninguém parecia dar conta da minha presença, ao passo que mal dissimulava eu a surpresa inexcedível.

Todos os circunstantes, atentos, pareciam aguardar alguma coisa. Contendo a custo numerosas indagações que me esfervilhavam na mente, notei que ao fundo, em tela gigantesca, desenhava-se prodigioso quadro de luz quase feérica. Obedecendo a processos adiantados de televisão, surgiu o cenário de templo maravilhoso. Sentado em lugar de destaque, um ancião coroado de luz fixava o Alto, em atitude de prece, envergando alva túnica de irradiações resplandecentes. Em plano inferior, setenta e duas figuras pareciam acompanhá-lo em respeitoso silêncio. Altamente surpreendido, reparei Clarêncio participando da assembléia, entre os que cercavam o velhinho refulgente.

"Apertei o braço do enfermeiro amigo, e, compreendendo ele que minhas perguntas não se fariam esperar, esclareceu em voz baixa, que mais se assemelhava a leve sopro:
"— Conserve-se tranquilo. Todas as residências e instituições de "Nosso Lar" estão orando com o Governador, através da audição e visão a distância. Louvemos o Coração Invisível do Céu." (págs. 28/29).

"Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às janelas espaçosas. Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quase tudo, melhorada cópia da Terra. Cores mais harmônicas, substâncias mais delicadas. Forrava-se o solo de vegetação Grandes árvores, pomares fartos e jardins deliciosos.
Desenhavam-se montes coroados de luz, em continuidade à planície onde a colónia repousava. Todos os departamentos apareciam cultivados com esmero. À pequena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se 3 espaços regulares, exibindo formas diversas. Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algunas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados.
Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao ceú. "Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque. Extremamente surpreendido, identificava animais domésticos, entre as árvores frondosas, enfileiradas ao fundo." (págs. 45/46).

'Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, sai', pela primeira vez, em companhia de Lísias.

"Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranquilidade espiritual. Não havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a mente em lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores. Incumbia-se o companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiam ininterruptas. Percebendo-me as íntimas e conjeturas, esclareceu sol feito:

"— Estamos no local do Ministério do Auxílio. Tudo o que vemos, edifícios, casas residenciais, representa instituições e abrigos adequados à tarefa de nossa jurisdição. Orientadores, operários e outros serviçais da missão, residem aqui. Nesta zona, atende-se a doentes, ouvem-se rogativas, selecionam-se preces, preparam-se reencarnações terrenas.

"A essa altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos, ostentando extensos jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de magnificente beleza, encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu."
" — Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a que me referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma triangular.

"E, respeitoso, comentou:
" — Ali vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos, utiliza ele a colaboração de três mil funcionários; entretanto, é ele o trabalhador mais infatigável e mais fiel que todos nós reunidos." (. . .)"
"Calara-se Lísias, evidenciando como vida reverência, enquanto eu a seu lado contemplava, respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam cindir o firmamento. . ." (págs. 52/53).

"Enlevado na visão dos jardins prodigisos, pedi ao dedicado enfermeiro para descan­sar alguns minutos num banco próximo. Lísias anuiu de bom grado. "Agradável sensação de paz me felicitava o espírito. Caprichosos repuxos de água colorida ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras." (pág. 54).

"Dado o meu interesse crescente pêlos processos de alimentação, Lísias convidou:
" — Vamos ao grande reservatório da colônia. Lá observará coisas interessantes. Verá que a água é quase tudo em nossa estância de transição. "Curiosíssimo, acompanhei o enfermeiro sem vacilar. "Chegados a extenso ângulo da praça, o generoso amigo acrescentou: " — Esperemos o aeróbus.( Carro aéreo, que seria na Terra um grande funicular).

"Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros. Ao descer até nós, à maneira de um elevador terrestre, examinei-o com atenção. Não era máquina Conhecida na Terra. Constituída de material muito flexível, tinha enorme comprimento, parecendo ligada a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas na tolda. Mais tarde, confirmei minhas suposições, visitando as grandes oficinas do Serviço de Trânsito e Transporte.

"Lísias não me deu tempo a indagações. Aboletados convenientemente no recinto confortável, seguimos silenciosos. Experimentava a timidez natural do homem desambientado, entre desconhecidos. "A velocidade era tanta que não permitia fixar os detalhes das construções escalonadas no extenso percurso. A distância não era pequena, porque só depois de quarenta minutos, incluindo ligeiras paradas de três em três quilômetros, me convidou Lísias a descer, sorridente e calmo.

"Deslumbrou-me o panorama de belezas sublimes. O bosque, em floração maravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante perfume. Tudo em prodígio de cores e luzes caridosas. Entre margens bordadas de grama viçosa, toda esmaltada de azulíneas flores, deslizava um rio de grandes proporções. A corrente rolava tranquila, mas tão cristalina que parecia tonalizada em matiz celeste, em vista dos reflexos do firmamento. Estradas largas cortavam a verdura da paisagem. Plantadas a espaços regulares, árvores frondosas ofereciam sombra amiga, à maneira de pou­sos deliciosos, na claridade do Sol confortador. Bancos de caprichosos formatos convidavam ao descanso.

"Notando o meu deslumbramento, Lísias explicou: "— Estamos no Bosque das Águas. Temos aqui umas das mais belas regiões de "Nosso Lar". Trata-se de um dos locais prediletos para as excursões dos amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade, para as experiências da Terra.

"A observação ensejava considerações muito interessantes, mas Lísias não me deu azo a perguntas nesse particular. Indicando um edifício de enormes proporções, esclareceu :"— Ali é o grande reservatório da colônia. Todo o volume do Rio Azul, que temos à vista, é absorvido em caixas imensas de distribuição. As águas que servem a todas as atividades da colônia partem daqui. Em seguida, reúnem-se novamente, abaixo dos serviços da Regeneração, e voltam a constituir o rio, que prossegue o curso normal, rumo ao grande oceano de substâncias invisíveis para a Terra." (págs. 59,60 e 61).

"Passados minutos, eis-nos à porta de graciosa construção, cercada de colorido jardim." (pág. 96)." — O nosso lar, dentro de "Nosso Lar". Ao tinido brando da campainha no interior, surgiu à porta simpática matrona." (pág. 96). "Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas. Identificando-me a curiosidade, Lísias falou, prazenteiro:. . ." (pág. 97).

"Em seguida, chamou-me Lísias para ver algumas dependências da casa, demorando-me na Sala de Banho, cujas instalações interessantes me maravilharam. Tudo simples, mas confortável." (pág. 98). Ricardo, porém, não descansou. Recolhido ao "Nosso Lar", depois de certo período de extremas perturbações, compreendeu imediatamente a necessidade do esforço ativo, preparando-nos um ninho para o futuro. Quando cheguei, estreamos a habitação que ele organizara com esmero, acentuando-se nossa ventura. (. . .)" (págs. 115/116)." — Como se encara o problema da propriedade na colônia? Esta casa, por exemplo, pertence-lhe?

"Ela sorriu e esclareceu:"— Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o nosso dinheiro. Quaisquer utilidades são adquiridas com esses cupons, obtidos por nós mesmos, Na custa de esforço e dedicação. As contruções em geral representam patrimônio comum, sob controle da Governadoria; cada família espiritual, porém, pode conquistar um lar (nunca mais que um), apresentando trinta mil bônus-hora, o que se pode conseguir com algum tempo de serviço. Nossa morada foi conquistada pelo trabalho perseverante de meu esposo, que veio para a esfera espiritual muito antes de mim. Dezoito anos estivemos separados pelos laços físicos, mas sempre unidos pelos laços espirituais.

"— E o problema da herança? — inquiri de repente."— Não temos aqui demasiadas complicações — respondeu a senhora Laura, sorrindo. — Vejamos, por exemplo, o meu caso. Aproxima-se o tempo do meu regresso aos planos da crosta. Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio, no meu quadro de economia pessoal. Não posso legá-los a minha filha que está a chegar, por que esses valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito de herança ao lar; no entanto, minha ficha de serviço aut­riza-me a interceder por ela e preparar-lhe aqui trabalho e concurso amigo, assegurando-me, igualmente, o valioso auxílio das organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência nos círculos carnais. Nesse cômputo, deixo de referir-me ao lucro maravilhoso que adquiri no capítulo da experiência, nos anos de cooperação no Ministério do Auxílio. Volto à Terra, investida de valores mais altos e demonstrando qualidades mais nobres de preparação ao êxito desejado.

"E, enquanto os jovens se despediam, convidava-me, solícito:"— Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios. "A dona da casa entrava em conversação com as filhas, enquanto acompanhando Lísias fui aos canteiros em flor. "O espetáculo apresentava-se soberbo! Habituado à reclusão hospitalar, entre grandes árvores, ainda não conhecia o quadro maravilhoso que a noite clara apresentava, ali, nos vastos quarteirões do Ministério do Auxílio. Glicínias de prodigiosa beleza enfeitavam a paisagem. Lírios de neve, matizados de ligeiro azul ao fundo do cálice, pareciam taças, de caricioso aroma. Respirei a longos haustos, sentindo que ondas de energia nova me penetravam o ser. Ao longe, as torres da Governadoria mostravam belos efeitos de luz. Deslumbrado, não conseguia emitir impressões. Esforçando-me para exteriorizar a admiração que me invadia a alma, falei comovidamente: (págs. 126/127).

"Segui Tobias resolutamente. "Atravessamos largos quarteirões, onde numerosos edifícios me pareceram colméias de serviço intenso. Percebendo-me a silenciosa indagação, o novo amigo esclareceu: "— Temos aqui as grandes fábricas de "Nosso Lar". A preparação de sucos, de tecidos e artefatos em geral, dá trabalho a mais de cem mil criaturas, que se regeneram e se iluminam ao mesmo tempo.
"Daí a momentos, penetramos num edifício de aspecto nobre. Servidores numerosos iam e vinham. Depois de extensos corredores, deparou-se-nos vastíssima escadaria, comunicando com os pavimentos inferiores.

"— Desçamos — disse Tobias com tom grave. "E notando minha estranheza, explicou, solícito: "— As Câmaras de Retificação estão localizadas nas vizinhanças do Umbral. Os necessitados que aí se reúnem não toleram as luzes, nem a atmosfera de cima, nos primeiros tempos de moradia em "Nosso Lar"." (pág. 145).

"Nunca poderia imaginar o quadro que se desenhava agora aos meus olhos. Não era bem o hospital de sangue, nem o instituto de tratamento normal de saúde orgânica. Era uma série de câmaras vastas, ligadas entre si e repletas de verdadeiros despojos humanos." (pág. 146).

"Logo após às vinte e uma horas, chegou alguém dos fundos do enorme parque. Era um homenzinho de semblante singular, evidenciando a condição de trabalhador humilde. Narcisa recebeu-o com gentileza, perguntando: "— Que há, Justino? Qual é a sua mensagem? "O operário, que integrava o corpo de sentinelas das Câmaras de Retificação, respondeu, aflito:

"— Venho participar que uma infeliz mulher está pedindo socorro, no grande portão que dá para os campos de cultura. Creio tenha passado despercebida aos vigilantes das primeiras linhas..." "Curioso, segui a enfermeira, através do campo enluarado. A distância não era pequena. Lado a lado, via-se o arvoredo tranquilo do parque muito extenso, agitado pelo vento caricioso. Havíamos percorrido mais de um quilômetro, quando atingimos a grande cancela a que se referirão trabalhador." (págs. 168/169).

"Agora, que penetrara o parque banhado de luz, experimentava singular fascinação. "Aquelas árvores acolhedoras, aquelas virentes sementeiras reclamavam-me a todo mo­mento. De maneira indireta, provocava explica­ções de Narcisa, enunciando perguntas veladas. "—No grande parque — dizia ela — não há somente caminhos para o Umbral ou apenas cultura de vegetação destinada aos sucos ali­mentícios. A Ministra Veneranda criou planos excelentes para os nossos processos educativos. "E observando-me a curiosidade sadia, continuou esclarecendo:

"— Trata-se dos "salões verdes" para serviço de educação. Entre as grandes fileiras das árvores, há recintos de maravilhosos contornos para as conferências dos Ministros da Regeneração; outros para Ministros visitantes e estudiosos em geral, reservando-se, porém, um de assinalada beleza, para as conversações do Governador, quando ele se digna de vir até nós. Periodicamente, as árvores eretas se cobrem de flores, dando ideia de pequenas torres coloridas, cheias de encantos naturais. Temos assim, no firmamento, o teto acolhedor, com as bênçãos do Sol ou das estrelas distantes.

"Devem ser prodigiosos esses palácios da natureza — acrescentei."— Sem dúvida — prosseguiu a enfermeira, entusiasticamente — o projeto da Ministra despertou, segundo me informaram, aplausos francos em toda a colônia. Soube que tal se dera, havia precisamente quarenta anos. Iniciou-se, então, a campanha do "Salão natural". Todos os Ministérios pediram cooperação, inclusive o da União Divina, que solicitou o concurso de Veneranda na organização de recintos dessa ordem, no Bosque das Águas. Surgiram deliciosos recantos em toda a parte. Os mais interessantes, todavia, a meu ver, são os que se instituíram nas escolas. Variam nas formas e dimensões.
Nos parques de educação do Esclarecimento, instalou a Ministra um verdadeiro castelo de vegetação, em forma de estrela, dentro do qual se abrigam cinco numerosas classes de aprendizados e cinco instrutores diferentes. No centro, funciona enorme aparelho destinado a demonstrações pela imagem, à maneira do cinematógrafo terrestre, com o qual é possível levar a efeito cinco projeções variadas, simultaneamente. Essa iniciativa melhorou consideravelmente a cidade, unindo no mesmo esforço o serviço proveitoso à utilidade prática e à beleza espiritual.

"Valendo-me da pausa natural, interpelei: "— E o mobiliário dos salões? Tal como dos grandes recintos terrenos?
"Narcisa sorriu e acentuou: "— Há diferença. A Ministra ideou os quadros evangélicos do tempo que assinalou a passagem do Cristo pelo mundo, e sugeriu recursos da própria natureza. Cada "salão natural" tem bancos e poltronas esculturados na substância do solo, forrados de relva olente e macia. Isso imprime formosura e disposições características. Disse a organizadora que seria justo lembrar as preleções do Mestre, em plena praia, quando de suas divinas excursões junto ao Tiberíades, e dessa recordação surgiu o empreendimento do "mobiliário natural". A conservação exige cuidados permanentes, mas a beleza dos quadros representa vasta compensação.

"A essa altura, interrompeu-se a bondosa enfermeira, mas, identificando-me o interesse silencioso, prosseguiu:"— O mais belo recinto do nosso Ministério é o destinado às palestras do Governador. A Ministra Veneranda descobriu que ele sempre estimou as paisagens de gosto helênico, mais antigo, e decorou o salão a traços especiais, formados em pequenos canais de água fresca, pontes graciosas, lagos minúsculos, palanquins de arvoredo e frondejante vegetação. Cada mês do ano mostra cores diferentes, em razão das flores que se vão modificando em espécie, de trinta a trinta dias. A Ministra reserva o mais lindo aspecto para o mês de Dezembro, em comemoração ao Natal de Jesus, quando a cidade recebe os mais formosos pensamentos e as mais vigorosas promessas dos nossos companheiros encarnados na Terra e envia, por sua vez, ardentes afirmações de esperança e serviço às esferas superiores, em homenagem ao Mestre dos Mestres.
Esse salão é nota de júbilo para os nossos Ministérios. Talvez já saiba que o Governador aqui vem, quase que semanalmente, aos domin­gos. Ali permanece longas horas, conferenciando com os Ministros da Regeneração, conversando com os trabalhadores, oferecendo sugestões valiosas, examinando nossas vizinhanças com o Umbral, recebendo nossos votos e visitas, e confortando enfermos convalescentes. À noitinha, quando pode demorar-se, ouve música e assiste a números de arte, excecutados por jovens e crianças dos nossos educandários. A maioria dos forasteiros, que se hospedam em "Nosso Lar", costuma vir até aqui só no propósito de conhecer esse "palácio natural", que acomoda confortável mente mais de trinta mil pessoas.

"Ouvindo os interessantes informes, eu experimentava um misto de alegria e curiosidade."— O salão da Ministra Veneranda — continuou Narcisa, animadamente — é também esplêndido recinto, cuja conservação nos merece especial carinho. (. . .)" (págs. 175 a 178)."Poucos minutos antes de meia-noite, Narcisa permitiu minha ida ao grande portão das Câmaras. Os Samaritanos deviam estar nas vizinhanças. Era imprescindível observar-lhes a volta, para tomar providências.

"Com que emoção tornei ao caminho cercado de árvores frondosas e acolhedoras! Aqui, troncos que recordavam o carvalho vetusto da Terra; além, folhas caprichosas lembrando a acácia e o pinheiro. Aquele ar embalsamado figurava-se-me uma bênção. Nas Câmaras, apesar das janelas amplas, não experimentara tamanha impressão de bem-estar. Assim caminhava, silencioso, sob as frondes carinhosas. Ventos frescos agitavam-nas de manso, envolvendo-me em sensações de repouso." (pág. 180).

"Calculei a assistência em mais de mil pessoas. Na disposição comum da grande assembléia, notei que vinte entidades se assentavam em local destacado entre nós outros e a eminência florida onde se via a poltrona da instrutora." (pág. 201).
*
"Estacaram as matilhas de cães ao nosso lado, conduzidas por trabalhadores de pulso firme.
"Daí a minutos, estávamos todos enfrentando os enormes corredores de ingresso às Câmaras de Retificação. (. . .)" (pág. 185).
" "Nosso Lar", portanto, como cidade espiritual de transição, é uma bênção a nós concedida por "acréscimo de misericórdia", para que alguns poucos se preparem à ascensão, e para que a maioria volte à Terra em serviços redentores. Compreendamos a grandiosidade das leis do pensamento e submetamo-nos a elas, desde hoje." " (pág. 205).

"Chegada a hora destinada à preleção da Ministra, que se realizou após a oração vespertina, dirigi-me, em companhia de Narcisa e Salústio, para o grande salão em plena natureza."Verdadeira maravilha o recinto verde, onde grandes bancos de relva nos acolheram confortadoramente. Flores variadas, brilhando à luz de belos candelabros, exalavam delicado perfume.

"Reunidos na formosa biblioteca de Tobias, examinamos volumes maravilhosos na encadernação e no conteúdo espiritual.
A senhora Hilda convidou-me a visitar o jardim, para que pudesse observar, de perto, alguns caramanchões de caprichosos formatos. Cada casa, em "Nosso Lar", parecia especializar-se na cultura de determinadas flores. Em casa de Lísias, as glicíniase os lírios contavam-se por centenas; na residência de Tobias, as hortências inumeráveis desabrochavam nos verdes lençóis de violetas. Belos caramanchões de árvores delicadas, recordando o bambu ainda novo, apresentavam no alto uma trepadeira interessante, cuja especialidade é unir frondes diversas, à guisa de enormes laços floridos, na verde cabeleira das árvores, formando gracioso teto." (págs. 205/206).

"Regressando ao interior das Câmaras, tive a atenção atraída para enormes rumores provenientes das zonas mais altas da colônia, onde se localizavam as vias públicas." "Chegados aos pavimentos superiores, de onde nos poderíamos encaminhar à Praça da Governadoria, notamos intenso movimento em todos os setores. Identificando-me o espanto natural, o companheiro explicou: (. ..)" (pág. 227).

."Decorridos longos minutos, em que observávamos a multidão espiritual, atingimos o Ministério da Comunicação, detendo-nos ante os enormes edifícios consagrados ao trabalho informativo."Milhares de entidades acotovelavám-se, aflitamente. Todos queriam informações e esclarecimentos. Impossível, porém, um acordo geral. Extremamente surpreendido com o vozerio enorme, vi que alguém subira a uma sacada de grande altura, reclamando a atenção popular. Era um velho de aspecto imponente, anunciando que, dentro de dez minutos, far--se-ia ouvir um apelo do Governador.

"— E' o Ministro Esperidião — informou Tobias, atendendo-me a curiosidade." (págs. 229/230).
"Em meio da geral alegria, ganhamos a via pública. As jovens faziam-se acompanhar de Polidoro e Estácio, com quem palestravam animadamente. Lísias, a meu lado, logo que deixamos o aeróbus numa das praças do Mi­nistério da Elevação, disse carinhoso:
"— Finalmente, vai você conhecer minha noiva, a quem tenho falado muitas vezes a seu respeito."

"Havíamos alcançado as cercanias do Campo da Música. Luzes de indescritível beleza banhavam extenso parque, onde se ostentavam encantamentos de verdadeiro conto de fadas. Fontes luminosas traçavam quadros surpreendentes: um espetáculo absolutamente novo para mim. (...)
Heigorina Cunha