Sri Nisargadatta Maharaj, nasceu na Índia em 1897 e faleceu em 1981. De família humilde, transformou-se em líder espiritual, filósofo, e um dos expoentes da escola Advaita Vedanta (Não-dualismo) do século 20, desde o grande Ramana Maharishi.
Em 1973 publicou o seu famoso livro I Am That(Eu Sou Isso), que trouxe reconhecimento mundial e uma legião de seguidores. Simples, minimalista e claro, responde a um discípulo as perguntas centrais da nossa existência nesta entrevista:
Pergunta: Quando era criança, com muita frequência eu experimentava estados de felicidade completa, próximos ao êxtase. Mais tarde, esses estados acabaram mas, desde que vim para a Índia, eles reapareceram, particularmente desde que encontrei você. Ainda assim, apesar de serem maravilhosos, esses estados não duram. Chegam e se vão, e não se sabe quando voltarão.
Maharaj: Como pode haver algo estável em uma mente que em si mesma não é estável?
P: Como podemos estabilizar a mente?
M: Como poderia uma mente inconstante fazer-se estável? Certamente não é possível. A natureza da mente é vagar. Tudo o que você pode fazer é colocar o foco da consciência além da mente.
P: Como isso é feito?
M: Evite todos os pensamentos exceto um: o pensamento “Eu Sou”. A mente irá se rebelar a princípio, mas, com paciência e perseverança, ela cederá e permanecerá quieta. Uma vez que você esteja quieto, as coisas começarão a acontecer espontaneamente e de forma muito natural, sem nenhuma interferência de sua parte.
P: Posso evitar essa longa batalha com minha mente?
M: Sim, você pode. Simplesmente viva sua vida como vier, mas sempre alerta, vigilante, permitindo que tudo ocorra da maneira que ocorrer, fazendo as coisas naturais de um modo também natural, sofrendo, gozando, como a vida se apresentar. Essa também é uma maneira de viver.
P: Bom, então posso casar-me, ter filhos, levar um negócio, ser feliz ...
M: Claro que sim. Você pode ser feliz ou não; aceite-a calmamente.
P: Mas eu quero felicidade.
M: Não se pode encontrar a verdadeira felicidade nas coisas que mudam e morrem. O prazer e a dor se alternam inexoravelmente. A felicidade procede do Ser e só pode ser encontrada no Ser. Encontre seu Ser Real (swarupa) e tudo chegará com ele.
P: Se meu Ser real é cheio de paz e de amor por que sou tão inquieto?
M: O seu Ser Real não é inquieto, mas o reflexo dele na mente parece assim, já que a própria mente é inquieta. É como o reflexo da lua na água agitada pelo vento. O vento do desejo move a mente, e o “eu”, que não é senão um reflexo do Ser na mente, parece mutável. Mas essas idéias de movimento, de inquietude, de prazer e dor, estão todas na mente. O Ser está além da mente, consciente, mas desapegado.
P: Como alcançá-lo?
M: Você é o Ser, aqui e agora. Deixe a mente em paz, seja consciente e despreocupado e você compreenderá que permanecer alerta, mas desapegado, observando como os fatos vão e vêm, é um aspecto de sua verdadeira natureza.
P: Quais são os outros aspectos?
M: Os aspectos são infinitos em número. Compreenda um e você compreenderá todos.
P: Diga-me algo que possa ajudar-me.
M: Você sabe melhor o que precisa!
P: Estou inquieto. Como posso obter paz?
M: Para que você necessita de paz?
P: Para ser feliz.
M: Você não é feliz agora?
P: Não, não sou.
M: O que o torna infeliz?
P: Tenho o que não quero e quero o que não tenho.
M: Por que não inverter? Queira o que você tem e não se preocupe com o que não tem.
P: Eu quero o que é agradável e não quero o que é doloroso.
M: Como é que você sabe o que é agradável e o que não é?
P: Através de experiências passadas, certamente.
M: Guiado pela memória, você tem perseguido o agradável e tentado escapar do desagradável. Você tem tido êxito?
P: Não, não tenho tido. O agradável não dura. A dor sempre volta.
M: Que dor?
P: O desejo de prazer, o medo da dor, ambos são estados de sofrimento. Existe um estado de puro prazer?
M: Cada prazer, físico ou mental, necessita um instrumento. Os instrumentos físicos e mentais são materiais, portanto, se desgastam e se esgotam. O prazer que proporcionam é, necessariamente, limitado em intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os prazeres. Você os deseja porque sofre. Por outro lado, a própria busca do prazer é a causa da dor. É um circulo vicioso.
P: Posso ver o mecanismo de minha confusão, mas não vejo a saída.
M: O próprio exame do mecanismo mostra a saída. Afinal de contas, a confusão está só na mente, a qual nunca se rebelou totalmente contra a confusão nem chegou a combatê-la. Ela só se rebelou contra a dor.
P: Então, tudo o que posso fazer é permanecer confuso?
M: Esteja alerta. Investigue, observe, pergunte, aprenda tudo quanto possa sobre a confusão, como funciona, qual é o seu efeito em você e nos demais. Ao ver claramente a confusão, você se libertará dela.
P: Quando olho para mim mesmo, vejo que meu desejo mais forte é criar um monumento, construir algo que dure mais que eu. Inclusive quando penso em um lar – esposa e filhos – é porque ele é sólido, duradouro, uma prova para mim mesmo.
M: Certo, construa um monumento para si. Como quer fazer isso?
P: Não importa o que eu construa, desde que seja permanente.
M: Certamente, você pode ver por si mesmo que nada dura. Tudo fica gasto, quebra e se dissolve. O próprio alicerce sobre o qual você constrói irá ceder um dia. O que você pode construir que sobreviva a tudo?
P: Intelectualmente, verbalmente, estou ciente de que tudo é transitório. Ainda assim, meu coração quer permanência. Quero criar algo duradouro.
M: Então você deve construir sobre algo duradouro. O que você tem que seja duradouro? Nem seu corpo nem sua mente durarão. Você tem que buscar em outra parte.
P: Desejo permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.
M: Não é você mesmo permanente?
P: Eu nasci e morrerei.
M: Você pode dizer verdadeiramente que você não existia antes de nascer, e poderá dizer depois da morte: 'agora já não existo?' Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não existe. Só pode dizer: “eu sou” (eu existo). Os outros também não podem dizer-lhe que “você não é”.
P: Não há “eu sou” no sono.
M: Antes de fazer afirmações tão incisivas, examine cuidadosamente seu estado desperto. Cedo você descobrirá que ele está cheio de intervalos onde a mente fica em branco. Perceba o quão pouco você se lembra, mesmo quando está totalmente desperto. Você não pode dizer que não estava consciente durante o sono. Você apenas não se lembra. Uma lacuna na memória não é necessariamente uma lacuna na consciência.
P: Posso chegar a recordar meu estado no sono profundo?
M: Certamente! Ao eliminar os intervalos de inadvertência durante as horas de vigília, gradualmente você eliminará o grande intervalo de inadvertência mental que você chama sono. Você estará ciente de estar dormindo.
P: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, não é resolvido.
M: A permanência é uma mera idéia, nascida da ação do tempo. Por sua vez, o tempo depende da memória. Você chama de permanência uma memória contínua através do tempo ilimitado. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.
P: Então, que é o eterno?
M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar algo transitório, apenas o imutável é eterno.
P: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não anseio mais conhecimento, tudo o que quero é paz.
M: Você pode ter toda a paz que quiser, basta pedir.
P: Estou pedindo.
M: Você deve pedir com um coração não dividido e deve viver uma vida íntegra.
P: Como?
M: Desapegue-se de tudo aquilo que deixa sua mente inquieta. Renuncie tudo que perturbe a paz dela. Se você quer paz, mereça-a.
P: Certamente, todo mundo merece paz.
M: Só a merecem aqueles que não a perturbam.
P: De que modo eu perturbo a paz?
M: Sendo escravo de seus desejos e temores.
P: Inclusive quando são justificados?
M: As reações emocionais nascidas da ignorância ou da inadvertência nunca são justificadas. Busque uma mente clara e um coração limpo.Tudo o que você necessita é permanecer tranqüilamente alerta, investigando a natureza real de si mesmo. Esse é o único caminho para a paz.
Em 1973 publicou o seu famoso livro I Am That(Eu Sou Isso), que trouxe reconhecimento mundial e uma legião de seguidores. Simples, minimalista e claro, responde a um discípulo as perguntas centrais da nossa existência nesta entrevista:
Pergunta: Quando era criança, com muita frequência eu experimentava estados de felicidade completa, próximos ao êxtase. Mais tarde, esses estados acabaram mas, desde que vim para a Índia, eles reapareceram, particularmente desde que encontrei você. Ainda assim, apesar de serem maravilhosos, esses estados não duram. Chegam e se vão, e não se sabe quando voltarão.
Maharaj: Como pode haver algo estável em uma mente que em si mesma não é estável?
P: Como podemos estabilizar a mente?
M: Como poderia uma mente inconstante fazer-se estável? Certamente não é possível. A natureza da mente é vagar. Tudo o que você pode fazer é colocar o foco da consciência além da mente.
P: Como isso é feito?
M: Evite todos os pensamentos exceto um: o pensamento “Eu Sou”. A mente irá se rebelar a princípio, mas, com paciência e perseverança, ela cederá e permanecerá quieta. Uma vez que você esteja quieto, as coisas começarão a acontecer espontaneamente e de forma muito natural, sem nenhuma interferência de sua parte.
P: Posso evitar essa longa batalha com minha mente?
M: Sim, você pode. Simplesmente viva sua vida como vier, mas sempre alerta, vigilante, permitindo que tudo ocorra da maneira que ocorrer, fazendo as coisas naturais de um modo também natural, sofrendo, gozando, como a vida se apresentar. Essa também é uma maneira de viver.
P: Bom, então posso casar-me, ter filhos, levar um negócio, ser feliz ...
M: Claro que sim. Você pode ser feliz ou não; aceite-a calmamente.
P: Mas eu quero felicidade.
M: Não se pode encontrar a verdadeira felicidade nas coisas que mudam e morrem. O prazer e a dor se alternam inexoravelmente. A felicidade procede do Ser e só pode ser encontrada no Ser. Encontre seu Ser Real (swarupa) e tudo chegará com ele.
P: Se meu Ser real é cheio de paz e de amor por que sou tão inquieto?
M: O seu Ser Real não é inquieto, mas o reflexo dele na mente parece assim, já que a própria mente é inquieta. É como o reflexo da lua na água agitada pelo vento. O vento do desejo move a mente, e o “eu”, que não é senão um reflexo do Ser na mente, parece mutável. Mas essas idéias de movimento, de inquietude, de prazer e dor, estão todas na mente. O Ser está além da mente, consciente, mas desapegado.
P: Como alcançá-lo?
M: Você é o Ser, aqui e agora. Deixe a mente em paz, seja consciente e despreocupado e você compreenderá que permanecer alerta, mas desapegado, observando como os fatos vão e vêm, é um aspecto de sua verdadeira natureza.
P: Quais são os outros aspectos?
M: Os aspectos são infinitos em número. Compreenda um e você compreenderá todos.
P: Diga-me algo que possa ajudar-me.
M: Você sabe melhor o que precisa!
P: Estou inquieto. Como posso obter paz?
M: Para que você necessita de paz?
P: Para ser feliz.
M: Você não é feliz agora?
P: Não, não sou.
M: O que o torna infeliz?
P: Tenho o que não quero e quero o que não tenho.
M: Por que não inverter? Queira o que você tem e não se preocupe com o que não tem.
P: Eu quero o que é agradável e não quero o que é doloroso.
M: Como é que você sabe o que é agradável e o que não é?
P: Através de experiências passadas, certamente.
M: Guiado pela memória, você tem perseguido o agradável e tentado escapar do desagradável. Você tem tido êxito?
P: Não, não tenho tido. O agradável não dura. A dor sempre volta.
M: Que dor?
P: O desejo de prazer, o medo da dor, ambos são estados de sofrimento. Existe um estado de puro prazer?
M: Cada prazer, físico ou mental, necessita um instrumento. Os instrumentos físicos e mentais são materiais, portanto, se desgastam e se esgotam. O prazer que proporcionam é, necessariamente, limitado em intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os prazeres. Você os deseja porque sofre. Por outro lado, a própria busca do prazer é a causa da dor. É um circulo vicioso.
P: Posso ver o mecanismo de minha confusão, mas não vejo a saída.
M: O próprio exame do mecanismo mostra a saída. Afinal de contas, a confusão está só na mente, a qual nunca se rebelou totalmente contra a confusão nem chegou a combatê-la. Ela só se rebelou contra a dor.
P: Então, tudo o que posso fazer é permanecer confuso?
M: Esteja alerta. Investigue, observe, pergunte, aprenda tudo quanto possa sobre a confusão, como funciona, qual é o seu efeito em você e nos demais. Ao ver claramente a confusão, você se libertará dela.
P: Quando olho para mim mesmo, vejo que meu desejo mais forte é criar um monumento, construir algo que dure mais que eu. Inclusive quando penso em um lar – esposa e filhos – é porque ele é sólido, duradouro, uma prova para mim mesmo.
M: Certo, construa um monumento para si. Como quer fazer isso?
P: Não importa o que eu construa, desde que seja permanente.
M: Certamente, você pode ver por si mesmo que nada dura. Tudo fica gasto, quebra e se dissolve. O próprio alicerce sobre o qual você constrói irá ceder um dia. O que você pode construir que sobreviva a tudo?
P: Intelectualmente, verbalmente, estou ciente de que tudo é transitório. Ainda assim, meu coração quer permanência. Quero criar algo duradouro.
M: Então você deve construir sobre algo duradouro. O que você tem que seja duradouro? Nem seu corpo nem sua mente durarão. Você tem que buscar em outra parte.
P: Desejo permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.
M: Não é você mesmo permanente?
P: Eu nasci e morrerei.
M: Você pode dizer verdadeiramente que você não existia antes de nascer, e poderá dizer depois da morte: 'agora já não existo?' Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não existe. Só pode dizer: “eu sou” (eu existo). Os outros também não podem dizer-lhe que “você não é”.
P: Não há “eu sou” no sono.
M: Antes de fazer afirmações tão incisivas, examine cuidadosamente seu estado desperto. Cedo você descobrirá que ele está cheio de intervalos onde a mente fica em branco. Perceba o quão pouco você se lembra, mesmo quando está totalmente desperto. Você não pode dizer que não estava consciente durante o sono. Você apenas não se lembra. Uma lacuna na memória não é necessariamente uma lacuna na consciência.
P: Posso chegar a recordar meu estado no sono profundo?
M: Certamente! Ao eliminar os intervalos de inadvertência durante as horas de vigília, gradualmente você eliminará o grande intervalo de inadvertência mental que você chama sono. Você estará ciente de estar dormindo.
P: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, não é resolvido.
M: A permanência é uma mera idéia, nascida da ação do tempo. Por sua vez, o tempo depende da memória. Você chama de permanência uma memória contínua através do tempo ilimitado. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.
P: Então, que é o eterno?
M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar algo transitório, apenas o imutável é eterno.
P: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não anseio mais conhecimento, tudo o que quero é paz.
M: Você pode ter toda a paz que quiser, basta pedir.
P: Estou pedindo.
M: Você deve pedir com um coração não dividido e deve viver uma vida íntegra.
P: Como?
M: Desapegue-se de tudo aquilo que deixa sua mente inquieta. Renuncie tudo que perturbe a paz dela. Se você quer paz, mereça-a.
P: Certamente, todo mundo merece paz.
M: Só a merecem aqueles que não a perturbam.
P: De que modo eu perturbo a paz?
M: Sendo escravo de seus desejos e temores.
P: Inclusive quando são justificados?
M: As reações emocionais nascidas da ignorância ou da inadvertência nunca são justificadas. Busque uma mente clara e um coração limpo.Tudo o que você necessita é permanecer tranqüilamente alerta, investigando a natureza real de si mesmo. Esse é o único caminho para a paz.